Hoje é o dia da geração à rasca. E eu não quero estar nessa manifestação. Porque os seus princípios vão contra os meus. As suas palavras são opostas às minhas ideias. E a sua acção? Exacto, que acção...?
Um pouco de história: eu tenho a idade da "geração rasca" que se transformou em "à rasca". Foi a malta da minha idade e com menos dois anos que esteve a lutar contra a PGA (em 1992) e contra as propinas (em 1993) e que mostrou o rabo à Manuela Ferreira Leite. Foi essa geração que não quis um exame nacional de acesso, que foi contra os numerus clausus. Grande parte dos manifestantes e líderes da altura eram e são de esquerda, alguns dos quais estão no Governo (Fernando Medina, por exemplo) ou no corredores e em instituições académicas.
Esta é a geração mais qualificada, como dizem. A geração a quem os pais, com o trauma de PRECS e ditadura deu tudo e deixou fazer tudo. É uma geração que pode estudar até quando quis, uma geração que pode ficar em casa dos pais até quando lhe apeteceu e foi a primeira geração que pode desfrutar da abertura a sério da União Europeia: ERASMUS, INOV Contacts, estágios europeus, etc.
É uma geração que quer....segurança, direito ao emprego... não se lê mais nada de jeito. Ah, é verdade, até se lê... Que eles também têm culpa. Pois têm.
É a geração que mais se alienou da sociedade. Nota-se pela falta de ligações associativas, pela falta de espírito associativo. É uma geração hedonista, individualista, que não vota e não está nem ai...
É uma geração de causas, dizem. Pois é: uma geração que em 15 anos apenas se juntou por Timor e pela Selecção Nacional, e mesmo assim só em 2004. É uma geração que não se revoltou nem se mexeu quando os governos estavam a destruir o seu mundinho. Uma geração que não vota, uma geração que não se junta aos partidos e tenta mudar o país. Uma geração que quer é, para além daquilo que os pais já lhe deram, também quer a segurança do trabalho como os pais ainda têm... e não se lê mais nada.
Seria a favor da manifestação se lesse coisas como empreendorismo, mudar por dentro o estado de coisas, lutar. Se reconhecesse credibilidade. Mas curiosamente, aos que reconheço credibilidade, são os talentos: os que aos trinta e poucos estão a mudar a nossa ciência, os que não se queixam de estar a vier no mundo global, os que vendem empresas à Microsoft e pensam no futuro. Esses, estarei com eles. Porque se queremos mudar a face política, por mim, mudaremos por dentro. Ou ao lado. Nunca à margem e só quando lhe doi. Para esse peditório, não dou. Chamem-me individualista...