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segunda-feira, 7 de julho de 2003

Ordenados dos politicos - Texto de Ulisses Pereira (filho)



Dado o brilhantismo da cronica, acredito que os comentarios nao se farao tardar!

Em primeiro lugar, queria dar os parabéns ao João pela qualidade das participações neste “cantinho” que já vai sendo de visita obrigatória diária. Em segundo lugar, gostaria de pedir desculpas por vir tocar num tema que já foi aqui discutido mas que, por falta de tempo a que o caldeirão me obriga, não tive possibilidade de escrever sobre ele.

Não sou político, nem tenho ambição a ter qualquer carreira política. Talvez por isso, esteja à vontade para escrever sobre isso sem medo de não alinhar pelo que é politicamente correcto. Compreendo que quem vá a votos tenha que ter esse género de preocupação, mas a minha relação com as urnas de voto é só mesmo para eu ir lá colocar a cruzinha no papel.

Não vou aqui falar da forma como a maioria das pessoas sobe na carreira política. A maior parte dos leitores deste espaço conhece bem o interior dos partidos e sabe bem como o jogo de influências, o favor aqui retribuído ali, a vingança - entre outros “fantásticos” motivos – são decisivos para a ascensão a lugares de relevo na política a pessoas cuja competência é pouco mais do que medíocre.

O que quero falar é sobre os ordenados dos políticos. Pode parecer criminoso, em tempo de depressão (fujo a sete pés da palavra “recessão”) económica, dizer que os políticos deviam ser melhor remunerados. Mas a verdade é que enquanto os políticos não forem melhor pagos, continuaremos a não ter os melhores nos lugares de decisão política.

Perdoem-me os vários políticos que lêem este espaço (o meu pai incluído) mas, na minha opinião, os mais competentes Homens (leia-se “homens e mulheres”) não estão na política e deveriam estar.

Face à medíocre qualidade de alguns dos políticos actuais, diria que muitos deles são até demasiado bem pagos! Contudo, isso não invalida que eu ache que a elite da classe política tenha que ser muito bem paga (ao nível dos gestores de topo das maiores empresas nacionais), sob pena de continuarmos a não termos à frente dos mais importantes órgãos legislativos e executivos do nosso país, as mais competentes pessoas.

Sei que muitos daqueles que estão a ler estas linhas, estarão já cheios de vontades de dizer que a política é muito mais do que uma mera forma de ganhar uns tostões e é, sobretudo, um serviço prestado ao país. Concordo completamente, mas hoje em dia não podemos estar apenas a contar com o espírito altruísta de alguns. É imperioso que se consigam reunir um elevado número de argumentos que aliciem as “grandes cabeças” deste país a abraçarem a actividade política.

Recordo-me, por exemplo, da vontade que o Dr. Durão Barroso tinha em ter o Dr. António Carrapatoso, administrador da Vodafone Telecel, no seu Governo. Quando fiz as contas, verifiquei que, caso aceitasse o convite, o Dr. António Carrapatoso ia ganhar num ano aquilo que ganha, actualmente, num mês. Surpreendeu alguém que ele tivesse declinado o convite? A mim não...

Olhem para a nossa Assembleia da República e analisem a qualidade dos deputados que a constituem. É claro que há vários deputados com muito nível, mas confesso conhecer alguns que não têm qualidade para pertencerem àquela casa. Se lá estão é pela forma como a ascensão na carreira política é feita e pelo facto de lá faltarem dezenas de potenciais deputados que não estão interessados em lá estar, devido ao facto de não ser aliciante economicamente.

Muitos rejeitam o aumento das remunerações da classe política pelas dificuldades económicas do país, mas eu pergunto: Quantos milhões, no médio/longo prazo, produziria a mais o nosso país caso estivessem à frente dos seus destinos as pessoas mais competentes? Seria o aumento dos ordenados dos membros do Governos que iria fazer aumentar a crise? E, em relação aos deputados, porque não aumentar os seus vencimentos e reduzir o número de deputados, tornando esta medida viável e sem custos adicionais?

Claro que, aqueles que pertencem aos partidos e lidam diariamente com a “guerra dos lugares” começa logo a argumentar contra esta última hipótese, sob pena do Parlamento ser desvirtuado. É facilmente compreensível o “nervoso miudinho” que deles se apodera quando se toca neste assunto, pois passaria a ser cada vez mais complicado o degradante jogo de bastidores para colocar na AR alguns frutos de favores.

O que eu estou aqui a escrever não é original. Já vários políticos se manifestaram no sentido do aumento do vencimento dos deputados. O que é certo é que, na altura da verdade (leia-se “na hora de alterar a lei”), começam a pensar nos votos, a temer a reacção popular e – como é seu apanágio – abandonam a ideia, receando a perda de popularidade.

Quero ver à frente do meu país, as mais competentes pessoas. Quero que as pessoas não deixem de ser deputados ou ministros porque não são bem pagas. Quero que as mais competentes pessoas do meu país o liderem. Gostava que, um
dia, as pessoas percebessem que pagar mais aos políticos, em vez de custar dinheiro ao país, no longo prazo, daria muito dinheiro a Portugal.
Eu sei que é politicamente incorrecto dizer isto. Eu sei que muitos políticos não dizem isto porque são políticos. Eu sei que não sou político e, por isso, posso dizer à vontade o que acho sem medo de nada. E o que eu acho é que os políticos deviam ser mais bem pagos. Mesmo que isso não bastasse para resolver os problemas da nossa classe política. Mas tenho a certeza que, caso sentissem os seus lugares ameaçados, muitos dos nossos políticos fariam muito melhor do que o que fazem hoje.

Ulisses Miguel Couceiro Pereira (o filho)
www.caldeiraodebolsa.com

2 comentários:

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