11 de Setembro de 2001. Já tinha regressado do almoço e estava na redacção da "A Capital". A televisão estava no noticiário quando dão o aviso do acidente. Começo a acompanhar com alguns editores do Nacional e Internacional, enquanto procuro na Internet mais novidades. Assisto estarrecido ao segundo embate. Começa ai uma viagem que durou até às 20 horas. Presenciei o 11 de Setembro na Net. Fica aqui o relato desta história, publicado na "A Capital".
Um abraço ao Ulisses. Nesse dia, um amigo seu morreu. Dedicou-lhe um post magnifico na SIC Online, onde escrevia as suas análises. O post está também neste link (procurar por post publicado por druida).
A Internet e as telecomunicações mundiais tiveram um grande teste com as trágicas notícias desta semana. O terror que se viveu na América foi uma dura prova para meios online e para os serviços de telecomunicações mundiais
Terror pela Web
As longas 24 horas do desastre
João Manuel Oliveira (com agências)
O terror que assolou a América e o mundo inteiro, provocando uma quantidade de vítimas ainda impossível de quantificar provocou igual onda de colapso, consternação e corajosas atitudes no meio cibernético e no sector das telecomunicações, numa demonstração da dinâmica gerada pela Internet. Com efeito, e numa altura de extrema crise, houve a lucidez para desenvolver algumas iniciativas rápidas, tendo este acontecimento sido uma lição sobre os novos métodos de jornalismo online, de utilização das telecomunicações e da capacidade de resposta a uma tragédia cujas repercussões ainda estão pouco definidas.
Os tráficos acontecimentos na América, ocorridos ao início da manhã nos EUA - final da hora d almoço em Portugal - foram um verdadeiro teste às telecomunicações mundiais e à capacidade de organização das diversas instituições. O FBI, por exemplo, tinha criado, menos de 24 horas depois do acontecimento um link especial na página do Centro de combate à fraude e aos crimes de "colarinho branco, cujo endereço é http://www.ifccfbi.gov, um espaço onde pode-se "comunicar qualquer informação de que se disponha sobre estes crimes", anunciou o procurador geral dos Estados Unidos, John Ashcroft. "É necessário que as pessoas sejam corajosas em situações como esta. Peço a quem quer que tenha informações que possam ser úteis para as autoridades que aproveitem esta oportunidade", acrescentou. Ao mesmo tempo, foi também criado um número telefónico gratuito, para prestar informações sobre vítimas, possíveis vítimas ou sobreviventes.
Caos telefónico
O caos telefónico que se instalou nos EUA - e o engarrafamento de chamadas cujo destino era Nova Iorque provocou, por outro lado, acontecimentos diversos. Se na quarta-feira tinha sido já salvos quatro pessoas por terem conseguido, no meio dos escombros, telefonar para a polícia a indicar a sua localização, as primeiras horas de pânico e os excessos de tentativas fizeram "calar" as redes de telemóveis e mesmo as comunicações fixas.
A Verizon Communications, que perdeu dez antenas da sua rede móvel optou por tornar grátis os telefones públicos da área de Manhattan, durante a tragédia, possibilitando inclusivé que esses telefones pudessem receber chamadas. Foi a partir desses telefones que muitas pessoas conseguiram avisar as famílias que estavam sãos e salvos. A empresa também verificou um aumento para o dobro do volume normal de chamadas originadas para as duas cidades atingidas pela tragédia.
Outro caso ligado, de forma tráfica, a estes acontecimentos relacionou-se com a autorização que os passageiros dos aviões desviados tiveram de comunicar com os seus entes queridos, despedindo-se, como foi o caso da mulher do procurador-geral do Supremo Tribunal de Justiça, a família Olson, cuja mulher era jornalista e morreu num dos aviões que chocou contra as torres do World Trade Center.
Em Portugal, o governo criou duas linhas telefónicas para informações sobre o acompanhamento de portugueses que possam ter sido eventuais vítimas desta tragédia, sob a dependência do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que estão ao serviço dos cidadãos 24 horas por dia, com os números 213946406 e 213946420.
Os portugueses recorreram, também, ao serviço de informações da PT (118), nomeadamente para saber o número de telefone da TAP que permite obter esclarecimentos sobre a partida e chegada dos voos. Outras das informações pretendidas relacionavam-se com uma hipotética linha especial de informações sobre os Estados Unidos e como podem ligar para os EUA, para além de pretenderem saber alguns números de telefones de serviços noticiosos. Por outro lado, as chamadas telefónicas de Portugal para os Estados Unidos aumentaram nessa terça-feira, em média, cerca de 2.500 por cento, tendo atingido um pico de 93 mil tentativas/hora quando o normal é de 2.300. O congestionamento das linhas nos Estados Unidos gerou dificuldades em completar as chamadas, conseguindo-se, em média, a terminação de apenas oito por cento das tentativas para Nova Iorque e 30 por cento para o resto dos Estados Unidos. Na hora seguinte ao atentado o número de tentativas de chamadas telefónicas subiu para 25 mil e atingiu o pico entre as 15 e as 16 horas, com 93 mil ligações.
Curiosamente, depois da acalmia registada ao final da tarde de terça-feira, o número de chamadas efectuadas entre as 11 e as 12 horas de quarta-feira voltou a sofrer um aumento de cerca de 119 por cento, explicado, em parte com as pessoas que ainda não tinha conseguido contactar com familiares na véspera e queriam contactá-los logo ao início da manhã - 6/7 horas em Nova Iorque
ISP's aumentam
Nos acessos à Internet, a rede da Telepac registou uma duplicação dos pedidos de entrada, sobretudo em sites de informação norte-americanos. Este tipo de tráfego houve dificuldade de resposta, com muitos pedidos de acesso a serem mal sucedidos. A empresa registou mesmo picos de pedidos superiores a cem por cento na altura mais crítica de falta de informação, entre as 14 e as 16 horas de terça-feira em Portugal. A falta de resposta de grande partes dos sites americanos motivou o encaminhamento de muito desse tráfego para sites nacionais. Quer a ONI, quer o Clix registaram aumentos significativos de acessos internacionais, que no caso da ONI atingiram os 30 por cento.
Acompanhar passo a passo
Em Portugal, as emissões televisivas viram a sua programação completamente alterada, com programação especial contínua desde que se soube da tragédia. E da mesma forma, dada a ânsia de notíocias, os sites respectivos foram dos mais procurados.
O caso da RTP foi o mais curioso dado que esta tragédia serviu como uma simulação "real". Estando a preparar um novo site, com um projecto Internet novo desde que romperam o acordo com a Pararede, Francisco Teotónio Pereira e a sua equipa repararam na possibilidade de "serem úteis às pessoas, fornecendo-lhe uma página simples, de modo a que pudessem acompanhar as notícias". Sem ser um site conhecida pela informação em tempo real, a infra-estrutura tecnológica aguentou as 90 mil visualizações e o serviço de vídeo-streaming esteve sempre perto do limite.
Para a TVI, a terça-feira foi um dia "angustiante" para toda a infra-estrutura tecnológica, dado que por norma é o dia em que o site do Big Brother atinge picos de audiência, rondando as quinhentas mil visualizações. Só que com a tragédia dos EUA, e todos os vídeos online, a página da TVI teve audiência similar ao Big Brother, ultrapassando o meio milhão de visualizações, como foi referido ao Info&Net por Paulo Bastos, da TVI Online. Devido a isto, foi pedida à KPNQWest uma largura de banda de 50Mb por segundo, de modo a suportar tudo.
Para José Alberto Carvalho, o pivot da SIC e director da SIC Online, o dia de ontem foi extenuante mas que serviu para testar os limites. "Logo a seguir ao almoço tivemos um aumento extraordinário de pedidos", tendo crashado o sistema. Optaram, desde ai, por abandonar o sistema dinâmico, com recurso a base de dados, tendo criado uma página inicial estática que fornecia os links e as últimas actualizações. Também foram alocados recursos de servidores e de largura de banda, que atingiu os 30 MB por segundo, de modo a aguentar o tráfego.
José Alberto Carvalho confirmou ao Info&Net que "estiveram 3500 pessoas a acompanhar, em streaming, a SIC Noticias e mais de 25 mil pessoas viram, pelo menos, um dos videos existentes nos sites". O número de pageviews registado atingiu o milhão, tendo ultrapassado, dado que José Alberto Carvalho não possuia dados de todo o dia de terça-feira.
Novos meios para Media online
A tendência dos meios de comunicação internacionais foi semelhante - páginas em HTML puro, com links para vídeos, sons e imagens - tendo abandonado as suas estruturas habituais. A página da CNN, por muito tempo bloqueada, foi um dos exemplos. Mas as mais curiosas iniciativas decorreram online. Desde a lista de humor que cortou toda a publicidade, incitou todos os seus subscritores a irem doar sangue aos hospitais mas manteve o seu mailing diário porque "o riso é o melhor remédio" até aos "Weblogs" em que eram incentivadas as pessoas a dar os seus dados de forma a dizer aos seus entes queridos que estavam vivas. Também nova-iorquinos que possuíam páginas pessoais começaram a actualizá-las de forma consecutiva. Em Portugal, o SAPO criou uma página especial, em conjugação com a TSF, que tinha link próprio, e que permitia o seu envio. Na quarta-feira à noite já tinha sido contabilizados, desde a altura do atentado, cerca de 30 milhões de pageviews, um aumento de sete vezes - 700 por cento - em relação ao normal. O Clix, com o apoio da Optimus disponibilizou um serviço de informação através de mensagens escritas e e-mail, acessível a qualquer utilizador de telemóvel independentemente do seu operador. Que tinha, no final de quarta-feira, cerca de 8000 subscritores e as páginas do portal da ONI tiveram um aumento de pageviews de 640 por cento. A redacção do Diário Digital, com muitas outras, concentrou-se em exclusivo nas diversas notícias relacionadas com o atentado, só tendo voltado a actualizar notícias dos outros sectores na tarde de quarta-feira.
Perdas nas tecnologias
Entre as potenciais vítimas dos atentados ocorridos nos EUA, o mundo das tecnologias também já chora alguns dos seus mortos, enquanto ainda se fazem contas ao número de empresas de alta tecnologia que tinham escritórios nas duas torres do World Trade Center. No entanto, duas mortes são já conhecidas e uma delas vitimou um dos fundadores da Akamai Technologies. Daniel Lewin tinha 31 anos e era o director tecnológico da empresa, fazendo parte da direcção e tendo sido um dos seus fundadores. Este elemento era um dos passageiros que foi vitimado quando o seu avião, que fazia o vôo Boston-Los angeles, foi desviado contra as torres do World Trade Center
Já a MRV Communications, uma empresa fornecedora de fibra óptica e sistemas de infra-estrutura de redes perdeu o seu director financeiro Edmund Glazer, 41 anos, também vitimado no mesmo avião de Daniel Lewin. Ambas as empresas anunciaram o seu mais profundo pesar em comunicados difundidos ao longo de quarta-feira.
(post propositadamente colocado às 13:46 - a hora portuguesa em que ocorreu o atentado.)
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João Oliveira