Algo que já queria escrever sobre...

O ano passado foi marcado por um conjunto de livros sobre os bastidores da política. Desde os livros das equipas de Helena Roseta e Mário Soares sobre as candidaturas falhadas à Presidência da República, livros internacionais de vários tipos (as biografias de vários candidatos americanos e o livro do inglês "spin doctor" de Blair) e um dos que li, por interesse muito pessoal, o do assessor de imprensa de Jorge Sampaio, o João Gabriel.

Deste último, retirei, entre outras, uma descrição que decerto fará sorrir os jornalistas com alguns aninhos de profissão em Aveiro:

Excerto do livro do João Gabriel “Confidencial – A década de Sampaio em Belém”

Pag. 173 – “A minha irritação inicial [por uma questão com Mota Amaral, explicita anteriormente no livro] – que ainda durou um par de horas – seguiu-se um realista “nada a fazer” e uma memória bem-humorada das cargas de ombro e alguns empurrões que presenciei nas visitas pelo estrangeiro mas, principalmente, no País. Tudo para ficar atrás do Presidente no momento das fotos ou das entrevistas das televisões. Figuras empertigadas que caminham em círculo com o único intuito de se mostrarem.

Lembrei-me, a esse propósito, do governador civil de Aveiro – havia muitos mais, mas este era, de facto, um exímio e dedicado praticante desta modalidade tão portuguesa. Homem de partido e pequena estatura – a ordem pode ser inversa - de barba ruiva, de seu nome Luís Antero. Qualquer que fosse o tempo, o espaço, o contexto. Independentemente de se tratar de uma visita do Presidente, do primeiro-ministro ou, até, de um qualquer ministro, mal as televisões apontavam na direcção do entrevistado – lá estava ele plantado por detrás, com ar circunspecto, em alguns casos acenando afirmativamente com a cabeça. Podia não estar a ouvir nada mas dava o seu ar de entendido e o não menos importante assentimento às palavras do entrevistado.

Tinha um genuíno fascínio pelo ecrã. Posso apostar que não há, nas televisões portuguesas, uma única imagem colhida no seu distrito, no tempo em que ele foi governador civil de Aveiro, do Presidente ou do primeiro-ministro, sem a companhia deste solícito servidor do Estado”