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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pedro Jordão demite-se do Teatro Aveirense

Num comunicado disponível em vários meios, ficámos a saber das razões para a demissão, com efeitos daqui a um mês, do director artístico do teatro aveirense, Pedro Jordão.
No fundo, e em traços gerais, Pedro Jordão, que não aguentou sequer um ano no cargo, queixa-se de falta de verbas, pilim, dinheiro, para exercer o "seu projecto" e num comunicado cheio de críticas à "tutela" (leia-se CM Aveiro) e em especial à questão de dinheiro (se bem que há uma delas incoerente porque a autarquia deve estar em processo de decisão do Orçamento e isso é que deverá ter sido o busílis da coisa) pouca coisa fica explicada.
Aliás, numa altura em que consta em Aveiro, por pessoas da área política, que o Teatro Aveirense vai ter um administrador a tempo inteiro, remunerado e que o director artístico o considera bom, como é que este último pede a demissão? E quando há um ano, quando entrou, não se tinha assustado com a falta de recursos financeiros?
O seu comunicado verte também alguns auto-elogios que, ficam a quem os profere. Veremos se o futuro e a realidade não os "alteram".
O meu sentimento? Poucas vezes fui ao Teatro Aveirense neste último ano.

A opinião de João Martins sobre o assunto.
A opinião de Júlio Almeida
O Comunicado fica disponível aqui, para memória futura


Comunicado
É uma decisão irreversível, ponderada e que reflecte a total falta de condições com que me tenho confrontado desde Agosto passado no exercício das minhas funções. Até ao momento, a pouco mais de dois meses do início de 2011, a tutela não assumiu qualquer posição relativamente ao próximo ano, não me tendo chegado até agora qualquer informação concreta quanto ao orçamento disponível, pelo que qualquer planeamento tem sido desde há muito impossível.

A decisão é irreversível também porque, independentemente das boas intenções que possam entretanto ser manifestadas, não consigo confiar na capacidade de resposta da tutela aos graves problemas que o Teatro Aveirense atravessa, depois de um ano em que falhou em encontrar soluções ou até em cumprir as expectativas mínimas, como o cabal cumprimento do Contrato-Programa 2010 ou um putativo reforço financeiro que nunca chegou e que seria essencial, principalmente quando este quadro difícil é uma herança do ano passado, já aí por incumprimento do respectivo Contrato-Programa.

A redução do apoio da DG Artes face ao habitual foi um claro agravante mas, reconheça-se, é apenas uma pequena parte do problema, principalmente se considerarmos os avultados valores em dívida pela Câmara Municipal de Aveiro ao Teatro Aveirense. De qualquer modo, as informações que repetidamente me têm chegado apontam para a indisponibilidade da tutela em alterar positivamente o financiamento do Teatro Aveirense, o que torna lógico que seja a actividade a sofrer mudanças radicais, quadro em que a minha presença não fará qualquer sentido. À solidariedade repetidamente verbalizada não corresponderam acções efectivas. A minha acção é a resposta possível à inacção da tutela.

Saio como entrei – acreditando absolutamente no projecto que concebi para o Teatro Aveirense e que é agora abruptamente terminado no fim do seu primeiro ano, de que faço um balanço muito positivo, um ano que, como sempre foi anunciado, serviu para lançar bases que agora, infelizmente, não servirão para nada. A cidade perde assim um projecto cultural que se encaminhava para se tornar uma referência muito e que, pelo contrário, caminha agora para um modelo de actuação completamente diferente, apesar de, há menos de um ano, a tutela ter aprovado e publicamente aplaudido o actual projecto, elaborado a seu pedido para quatro anos, e do qual se conheciam inclusivamente os pressupostos financeiros. Deixo, com conhecimento prévio da tutela, programação confirmada até Janeiro de 2011, para além de vários espectáculos inseridos nas três redes de programação elaboradas com outros teatros e que têm o apoio já aprovado de fundos europeus.

Há um único modo de agradecer as oportunidades que nos são dadas de exercer um serviço público e é exercendo-o com elevado sentido de responsabilidade e transformando positivamente os projectos em que somos envolvidos. Nesse sentido saio com noção de um dever cumprido. Exerci as minhas funções com total dedicação e executei rigorosamente o plano que apresentei e que foi aprovado. Acima de tudo, procurei pautar a minha actuação por um permanente sentido de serviço público. Acredito que este ano contribuiu para a credibilização do Teatro Aveirense, nomeadamente junto dos agentes culturais nacionais, e os números deixam-me tranquilo – o Teatro Aveirense, face ao mesmo período em 2009, regista neste momento um aumento de receitas na ordem dos 20% e de espectadores na ordem dos 15%. Para além disso, os pressupostos previstos no orçamento para este ano têm vindo a ser cumpridos.

Deixo ainda uma palavra especial de apreço ao administrador Dr. Virgílio Nogueira, pelo apoio sempre entusiasta que prestou ao projecto, sabendo-lhe reconhecer a qualidade e a importância estratégica para o desenvolvimento da cidade e para a sua afirmação no panorama nacional.

E deixo uma última palavra para a equipa do Teatro Aveirense, que correspondeu exemplarmente num contexto extremamente difícil e sem a qual nada teria sido possível. A todos deixo um sincero agradecimento e a minha lealdade.

Devo dizer que saio por minha exclusiva iniciativa e sem qualquer tipo de compensação financeira, pelo que serão inúteis quaisquer especulações a esse respeito. Saio por uma questão de coerência e norteado pelos mesmos princípios com que sempre guiei a minha vida e de que nunca abdicarei.

Aveiro, 21 de Outubro de 2010
Pedro Jordão, director artístico do Teatro Aveirense

3 comentários:

  1. Bom trabalho por parte do Pedro Jordão. Parabéns. Boa programação, apesar do non mainstream que, na vdd, ficou a faltar.
    no entanto compreende-se agora pelo comunicado. Não houve dinheitro, nao houve apoios, nao houve sequer concertaçao. trsite elio q devias era estar num talho.

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  2. Caro João Oliveira,

    Estes momentos servem sempre para todo o tipo de avaliações e não posso estar a responder a qualquer informação menos correcta que surja mas, até por consideração pelo seu espaço, há dois pontos que devo corrigir: 1. Não estou minimamente por dentro do assunto que refere quanto a um novo administrador. Ouvi os primeiros rumores ontem, já depois de ter apresentado a minha demissão, e não me pronunciei sobre ninguém nesse contexto. Nem me irei pronunciar. 2. Numa situação minimamente normal num teatro, a programação de 2011 já devia estar definida e a base orçamental devia ser conhecida há meses, quando neste caso não há qualquer plano possível por total falta de informação.

    Cumprimentos,

    Pedro Jordão

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  3. Caro Pedro Jordão,

    agradeço a consideração que tem por este espaço como também tenho por grande parte do seu trabalho no TA no último ano (que delicia o concerto de Pop Dell'Arte, ainda há dias).
    Percebo perfeitamente que tenha suportado até ao limiar da paciência a falta de esforço financeiro por parte da autarquia para fazer o desenho de temporada que pretendia. Se não tinha indicações financeiras ainda há dias, como refere, isso demonstra muito em relação ao que deveria ser a realidade: estamos em final de Outubro e deveria estar a preparar orçamentos finais e a fechar contratos.

    Acredito que não fez mais porque não pode. E não entenda a minha frase de não ter ido muitas vezes ao TA como uma crítica ao seu trabalho mas sim a uma constatação de um facto... Despertou-me muito mais o interesse espectáculos fora de Aveiro. Os trabalhos devem ser avaliados de acordo com os dados que temos conhecimento, o que, como sabe, no caso de aveiro não são muitos...
    Desejos de boa sorte para o futuro
    João Oliveira

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