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domingo, 17 de janeiro de 2010

Sobre a decadência do Jornalismo em Aveiro (II)


Agradeço, desde já, os comentários que aqui no blogue ou no Facebook surgiram sobre a primeira parte deste artigo e aqui fica a segunda parte que, espero, tenha a mesma atenção da vossa parte. Aguardo os vossos reparos e comentários pelas várias formas ao dispôr.

Tendo em conta o cenário / realidade existente, deixo aqui alguns pontos da minha reflexão, evitando claramente as análises branco/preto num tema em que a multiplicidade de factores convergentes ao actual estado de situação será a melhor resposta.
a) Falta de Qualidade dos Jornalistas - Este é dos poucos argumentos que não uso para me referir ao actual estado dos meiso de comunicação em Aveiro. Se é verdade que as "redacções" em termos nacionais, populam de estagiários e juniores sem o devido enquadramento e "memória histórica", a verdade é que, mesmo existido alguns jornalistas fraquinhos em Aveiro, como em qualquer lado, não são  razão para o actual panorama. A verdade é que a situação precária, os salários baixos, e os despedimentos fizeram sair do mercado valores seguros como o José Carlos Maximino, Arménio Bajouca, Susana Borges, Filipa Gaioso Ribeiro, a Anabela entre muitos outros mas quando o espírito empreendedor e a qualidade sobressaíram, é possível ter hoje jornalistas aveirenses ou que estiveram ligados a Aveiro nas redacções da TSF (Tukayana); TVI 24 (Rita Rodrigues); Público (Andreia Cunha Freitas); 24 Horas (Miguel Marujo), etc, etc, etc.

b) Erros de Modelo dos Jornais Nacionais - Em Portugal, os meios de comunicação social nacional andaram, nos últimos anos, com o auxílio de consultores nacionais ou internacionais, a tentar inventar novos conceitos e formas de reter um público que tem múltiplas formas de receber informação, opinião e dados. Mercê disso, os principais jornais generalistas, ao sabor da corrente, criaram ou fecharam espaços dedicados ao jornalismo de proximidade, dito local. Sem dúvida que os dois únicos jornais "nacionais" que apostam nesse tipo de jornalismo são o Correio da Manhã e o JN. A realidade dos dois é reflectida em Aveiro: enquanto um é mais do norte, tem uma delegação forte em Aveiro, o outro manteve-a mas nos últimos cortes... Cortou-a. Já o Público andou de asneira em asneira e o último modelo (o Cidades, ao domingo) não parece que resolva os problemas. Cortaram claramente com os colaboradores mas quiseram manter o espaço "local". Asneira. É que o "Local Porto" parece mesmo Local Porto - embora quisessem que aquilo fosse Local Norte/Centro a verdade é que as noticias do Porto surgem claramente sobredimensionadas em relação às outras. Isso não ajudou na manutenção da importância da delegação e, surgiu, claramente, o downsizing. O DN? Esse não é para aqui chamado. Porque nunca deu importância nenhuma ao local e a Aveiro. Tem um colaborador à peça e pouco mais que o país deles é Lisboa.

c) Falta de vitalidade do Tecido Económico - Um jornal deve ter uma racionalidade e um modelo de negócio adstritos. Ou então, desculpem os leitores, mas devem desconfiar dos intuitos do mesmo e do seu papel de "gatekeeper" e mediador/curador de informação. Ora no modelo de jornais locais, as assinaturas não dão para muito mais do que os custos de impressão. Tendo sido profundo conhecedor da estrutura de publicidade, das vendas e da forma de funcionar de projectos jornalísticos regionais, deu para constatar a falta de viatalidade do nosso tecido económico e do seu notório "apagamento" como motor da nossa economia e de Aveiro-contexto. É que muitas vezes, para além das apostas regionais racionais (as cadeiras de hard discount como o Lidl criaram "falsos jornais" para passar a mensagem dos seus produtos quando poderiam ter salvo e ajudado a manter inúmeras marcas locais) existem os chamados anúncios quase de responsabilidade "social". E quando a actividade económica está em crise, em especial aqueles produtos virados para o consumidor, é certo e sabido que são so jornais locais, com estruturas financeiras frágeis que irão sofrer.

d) Falta de vitalidade do Tecido Político e Social - A região de Aveiro está claramente subvalorizada no contexto político nacional. e com isso o impacto que a região tem nos media generalistas fica claramente diminuída. Os meiso de comunicação social nacionais não associam Aveiro com quase ninguém que valha a pena "falar" e lembro-me que nos programas nacionais que foram gravados em Aveiro, os nomes de características nacionais eram quase sempre os mesmos: Ângelo Correia; Bagão Felix e pouco mais. Precisamos exportar mais políticos, ter mais vida e a crítica é transversal a nossa sociedade. Afinal o problema não está só nos políticos mas sim na sociedade que temos. É que ao contrários dos "de Coimbra" (mesmo aqueles que só lá estudaram...) que têm orgulho em dizer que são de lá e defender os seus interesses, os de "Aveiro" parece que se escondem ou pouco querem saber!

e) Falta de espírito empreendedor ou objectivos - Em grande parte dos locais de província do país, os jornais que existem surgem de um grupo de sócios e/ou amigos que avança para o projecto. Em Aveiro, só dois meios locais surgiram, com pés e cabeça, dessa forma nas últimas décadas: o Campeão, do Lino Vinhal e "O Aveiro", primeira fase, ligado a elementos do PSD local. Foi pouco e é pouco. Todos dizem que o Diário de Aveiro precisava de concorrência (aliás, é uma verdade de La Palisse pois basta ver que não tendo concorrência, dão-se ao luxo de gerir notícias por vários dias) mas nenhuma concorrência surgiu...

f) Internet, Novos Media, e falta de Inovação -  Este ponto, pelo meu conhecimento, dá quase para outro post. Basta lembrar que os meios de comunicação social local perderam o negócio da net, nunca souberam ser "âncoras" de projectos locais, as pessoas que estiveram à frente dos desígnios netianos em Aveiro nunca tiveram visão nem noção do que é o jornalismo e por isso as coisas não melhoraram, foram meramente circunstanciais.

Espero que tenham gostado. Mas ainda regressarei ao tema, na terceira parte, as das conclusões e reflexões pessoais.



Imagem: FreeDigitalPhotos.net

12 comentários:

  1. http://aveirosempre.blogspot.com/2010/01/o-fim-da-aveiro-fm.html Fica aqui o link para uma opinião do Pedro Neves, sobre este tema

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  2. Já agora, dizer que o Angelo Correia é de Aveiro é mesmo falar do que se não sabe...

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  3. MAs caro Anónimo, o ignorante (para além de outra coisa) é você. Alguém escreveu que Angelo Correia é aveirense? Ah, ok...

    É considerado na politica nacional como aveirense, não tenha dúvidas disso e ainda no último programa sobre a Volta a Portugal a RTP o escolheu para o programa de Aveiro. E Ângelo Correia fez uma boa parte da sua via profissional e política por cá. Mas você deve ser daqueles que pouco ou nada sabe e só sabe dizer mal.

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  4. A reflexão é oportuna. Tentado seguir a sua linha de raciocínio também lamento a decadência dos média em Aveiro e a incapacidade de todos nos segurarmos. O mercado não justifica tudo mas vou tentar, por uma lógica de acompanhamento seguir os seus pontos de vista e dalguns comentadores.
    Jornalistas: existe qualidade nos locais. Não é por falta de profissionais competentes que os jornais não vingam. Trabalhei com vários e digo que só posso dizer bem. Destaco o Pedro Farias e o Pedro Barros, que hoje trabalha no projecto da Lena comunicação no Porto, e que, para além dos que conheço me deram todas as garantias.
    Erros de Modelo dos Jornais Nacionais – lamento mas os erros que os jornais nacionais fizeram só os comprometeram a eles. Concordo que andaram a experimentar e a inventar. Já tiveram, em tempos idos, as formulas de sucesso em Aveiro. Quem não recorda os escritos do Daniel Rodrigues.
    Falta de vitalidade do Tecido Económico - Mas não culpemos o Lidl e os gratuitos apenas. Concordo que só existem por motivos comerciais próprios e que chamar jornais àqueles produtos é um eufemismo. Mas o mercado assim gosta de lixo e é isso que tem. Um outro aspecto criticável é o aparecimento dos chamados boletins municipais que custam bem mais do que a CM gasta em todos os jornais regionais e locais. Fugir das más noticias não se consegue via boletins municipais e naturalmente que ficamos tão próximos dos ditos jornais do LIDL e hard discount e muito distantes daquilo que deveria ser um jornal.
    Falta de espírito empreendedor ou objectivos Já houve para além tentativas enumeradas outras tentativas para criar gratuitos e revistas que também falharam portanto não sei se poderemos apenas culpar os empreendedores.
    Falta de vitalidade do Tecido Político e Social – 100% de acordo e infelizmente têm-se agravado.
    Internet, Novos Media, e falta de Inovação - Por experiencia própria sei que é possível melhorar este aspecto até porque dirijo um jornal onde isso foi já possível mas atenção; anda muita gente à procura duma solução mais fiável e ela ainda não apareceu mesmo investindo imenso como alguns jornais nacionais o fazem.
    Sobre o comentário do Rui Tukayana ele reflecte uma triste evidencia com a qual concordo. Quando voluntariamente fazemos por desaparecer das notícias corremos o risco desaparecer fazer esquecer a terra onde vivemos. Podemos não perder o contacto diário com a população mas perdemos o contacto do País. Existem exemplos de autarcas que protelam entrevistas, que não comentam. Deve pensar que aquela frase “não me comprometas” pode existir na política e que gerem o seu tempo político. Estão enganados.
    Acho Jorge Greno pode ter alguma razão mas o jornalismo deve ser independente o que não significa que os jornais não possam e não devam ter opinião sobre determinados assuntos. Mas elas normalmente acarretam represálias dos vários poderes. São subliminares mas existem e a saúde financeira da Comunicação Social não dá garantias duma verdadeira independência. Quanto às alterações de forma elas têm vindo a ser tentadas. Eu próprio em colaboração com uma boa equipa o fizemos com O AVEIRO. Foi um esforço reconhecido mas que não deu resultado económico.

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  5. Caro Granjeia,

    Queria apenas retocar dois pontos. O Aveiro teve várias fases e reconheço que algumas boas. Agora a verdade é que o vosso esforço não conseguiu convencer a Administração do grupo Lena.

    Em relação à Net, com pouco dinheiro um projecto chegaria ao topo do jornalismo local. Eu gostava de o desenvolver, mas faltam os tais investidores/promotores.

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  6. Por diversas razões não pretendo fazer qualquer comentário especial...
    Mas deixo este contributo:
    "Lusa encerra delegações em Faro, Évora e Coimbra" (fonte:JN)
    http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Media/Interior.aspx?content_id=1473057

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  7. Caro Miguel Araujo,

    O titulo não é muito simpático mas o conteúdo não é negativo. A Lusa fechou espaço físicos - não pagando alugueres - mas segundo o responsável, reverte esse investimento em equipamento multimédia, computadores, telemóveis e mais colaboradores. Se assim for, nada a obstar!

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  8. Caro João Oliveira, apesar de não ser jornalista nem algo parecido, permita-me comentar neste seu espaço. Primeiro quero felicita-lo pelos 2 excelentes artigos que escreveu neste seu espaço que acompanho a alguns anos quase-que-diariamente.
    De seguida, quero somente corroborar com a grande maioria das suas opiniões expressas nestes 2 textos e que de facto, com poucos recursos financeiros e com muita vontade, Aveiro poderia ter um "jornalismo local de topo" através da presença destes num espaço virtal, conforme refere. Dado que, como certamente bem sabe, os custos inerentes à presença de entidades na internet é bastante mais reduzido, sejam jornais, revistas, rádios e até mesmo televisões. Acima de tudo considero que, Aveiro possui excelentes jornalistas o que é preciso é haver um projecto sério e competente que consiga de facto, ser o rosto e o espelho deste concelho.
    Do meu ponto de vista o jornalismo regional, tem muito futuro, dado que, os media nacionais tendem a cada vez mais menosprezar aquilo que não é "notícia importante", consequentemente o jornalisto local tem aí um espaço vital. Quem não gosta de lêr / ouvir / ver notícias sobre a sua região? seja ao nível do desporto (temos tantos clubes a exercerem as suas actividades semanalmente - Beira-Mar, Galitos, S. Bernardo, Esgueira, Alavarium, etc.), ao nivel da cultura (temos algumas associações culturais relevantes e com provas dadas nos mais diversos campos), ao nível da política (apesar dos nossos politicos da região não terem grande apetência para os media, penso haver necessidade de mostrarmos a sua maneira de pensar, ser e agir nesta polis que tanto necessita do seu trabalho e empenho), ao nível social (tantas associações com manifesto interesse noticioso!), enfim, e poderiamos estar aqui a dissertar sobre formas mais-do-que-justificadas para uma presença efectiva e real do concelho de Aveiro nos media.
    Enfim, muito mais havia para reflectir, mas o tempo não mo permite fazer. Peço desculpa por esta intromissão, quero somente reforçar que continuarei atento ao que vai escrevendo, pois como Aveirense (nascido e criado) que sou, não posso ficar de braços cerrados, ao ver o declinio de um espaço que o concelho e principalmente os seus cidadãos merecem. Muito obrigado pela sua reflexão e partilha.

    Fernando Cassola Marques

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  9. E a avaliação do trabalho das assessorias de imprensa dos orgãos autárquicos da nossa terra? Esqueceu-se, quer branquear ou acha que pura e simplesmente não são relevantes?

    Miguel Saraiva, Universidade de Aveiro

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  10. Caro Miguel Saraiva,

    Não sei se é professor ou aluno, mas queria lhe dizer o seguinte: não leu que ainda há uma última parte? A das reflexões e opiniões?

    Mas posso desde já adiantar que a responsabilidade dos meios de comunicação social estar em Aveiro não é, seguramente, dos assessores. Se eles não existissem, por exemplo, acha que saiam tantas noticias positivas ou não, sobre a UA?

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  11. Pronto: fico a aguardar com uma grande curiosidade o terceiro artigo. O segundo artigo tem um ou outro pormenor "delicioso". Assim como alguns comentários que já surgiram.
    É uma pena no Zag não existirem "delícias". O João Oliveira só lá vai às "bicas"!!!

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  12. Parabéns, João,
    Vejo que tens o teu tempo bem ocupado. conseguiste aqui dois belos conteudos.
    De facto, também partilho dessa tua opinião espelhada nas diversas vertentes que apresentas.
    No entanto, sou tentado a partilhar contigo umas linhas; e isto porquê?
    Pois podemos recuar no tempo 20 anos, e no momento acusar dificuldades economicas para o que sucede ao jornalismo em Aveiro e no Pais. Essa é uma vertente.
    Outra, em meu entender tem a ver com o jornalismo de informação e o jornalismo de noticias... acontece que também nestes 20 anos, muitos foram os avanços em materia de conteudos, mas tudo reside aqui: informar para quê? E do outro lado, se quero ser informado, recorro onde?
    E é aqui que a coisa, desvirtuou o significado. è que o jornalismo que não soube reinventar-se sem apresentar sangue; morte; intriga; suspeita... e isto, não é interessante.
    Já ninguem vai comprar uma coisa, no caso um jornal, que quando está a levantar o mesmo para começar a defolhar já está desactualizado; ai está, vence a internet, a tv, e afins.
    O valor do jornalismo, e consequentemente do jornalista está em credibilizar a arte.
    Nem todos podem ser jornalistas; e nem todos podem ser proprietários de um negocio jornalistico. Acontecendo a preocupação passa a ser vender jornal em numero e não em conteudo.
    Força nisso. venha dai a 3.ª parte.

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