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sábado, 23 de abril de 2005

O pais relativo

Um dos melhores artigos de opinião de sempre. Importante ler.

Sérgio Figueiredo
O país relativo
sf@mediafin.pt
Tudo é relativo em Portugal. Os problemas. As soluções. É relativo o drama que o analista constrói sobre os primeiros. É relativa a carga milagrosa que os governantes dão às segundas. Os próprios actores são relativos: os políticos que fazem as políticas, os analistas que analisam. Tudo isto faz das prioridades nacionais uma coisa muita relativa. Assim tudo muda facilmente.
A energia é um sector estratégico? Sim, todos dizem que sim. Problema identificado: há, então, que criar condições para o preservar, para valorizar o país através das empresas que nele operam. Chega a solução: o modelo de Tavares.
Dois anos a estudá-lo, a negociá-lo, a construi-lo. Não dá. Vem aí o plano Pinho. Vamos ouvir a mesma lengalenga: é o melhor do mundo, é incontornável, porventura a nossa salvação. Até que o Pinho caia e outro Manuel ocupe o seu lugar.
E a diplomacia económica? Haveria outra forma recolocar a nossa economia nas rotas do investimento estrangeiro? E havia alternativa a isto para impulsionar as nossas empresas nos mercados externos?
Não, não havia outra estratégia possível. E o dr. Cadilhe era o seu mentor, a API o pilar central de um edifício institucional que unia embaixadores a homens de negócios, o ICEP ao IAPMEI.
Passaram três anos, o investimento frustra, as exportações derrapam, Cadilhe deserta e o ministro Pinho volta a separar institutos.
Este Governo tem sido muito responsável naquilo que faz e comunica. Aliás, o engenheiro Sócrates deu a sua primeira entrevista só para avisar que os seus ministros comunicam apenas aquilo que fazem. Infelizmente, vêm comunicando sobretudo aquilo que desfazem.
Desfazem o plano do engenheiro Talone. Desfazem a agência do doutor Cadilhe. Desfazem a missão de Diogo Vasconcelos. Tudo é relativo. Até os resultados obtidos por todos os planos, todas as agências e todas as missões que os nossos ministros socialistas estão a desfazer.
Estão no seu direito. Têm a legitimidade da maioria absoluta. Nem que seja para contra-sensos: planos tecnológicos baseados em subsídios públicos e benefícios fiscais? separar as estruturas de apoio às empresas: diferentes estruturas, para as mesmas empresas?
Ninguém irá verter uma lágrima pela API, porque em dois anos e meio não conseguiu nada de espectacular. Nem pela UMIC, porque não evitou que o país voltasse a atrasar-se na sociedade de informação. Nem pela fusão do ICEP ou do IAPMEI, por absoluta ignorância dos resultados que isso produziu.
Mas já é preciso chorar por ver que o «bota-abaixo» continua a ser o método predilecto do ministro que chega, do Governo que se estreia.
Afirmo ? a equipa de Sócrates está a destacar-se mais por aquilo que desfaz do que pelo que tem feito. E repito ? é algo que a democracia legitima, mas que a urgência do país não comporta.
É relativamente desagradável esta sensação que começa a passar. Não tanto o silêncio. Mais a decomposição. Sem explicações. É o país relativo, de O´Neil, este «país engravatado todo o ano e a assoar-se à gravata por engano».

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