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terça-feira, 21 de junho de 2005

Entrevista integral de Ribau Esteves ao Diário de Aveiro

«É importante que Ílhavo e Aveiro estabeleçam acordos e os cumpram»
Uma sondagem recente do Diário de Aveiro dá-lhe uma vantagem esmagadora. Que leitura faz desses resultados?
Respeito sempre o trabalho dos outros, nomeadamente das entidades que têm capacidade técnica para fazer estudos de opinião. O que eu não faço é segui-los naquilo que é a minha orientação de gestão política. Portanto, li e registei a sondagem, e é sempre melhor estar à frente do que atrás, mas apenas isso. O meu trabalho como presidente e candidato é contar os votos no dia das eleições.

Mas a sondagem não lhe dá uma simples vitória, dá-lhe uma vitória esmagadora. Na sua opinião, a que se deve essa superioridade tão vincada?
Há uma nota que é clara para quem quer fazer uma avaliação séria daquilo que tem estado a acontecer em Ílhavo desde Janeiro de 1998: o concelho sofreu objectivamente uma mudança profunda e muito positiva a vários níveis ? desde o nosso sector principal, aquele que recebeu a maior mudança e o que é de todos o mais importante, que é a área da educação, até às gestões das infra-estruturas, do saneamento básico ou da rede viária estruturante, os vários equipamentos públicos que por todo o concelho se construíram... Tantas e tantas coisas. Por outro lado, a actividade, aquilo que são as acções geridas directamente pela Câmara nas áreas da recriação, do desporto, da cultura, da dinamização turística, além das acções das quais somos parceiros.
Houve de facto uma mudança profunda nestes sete anos e meio e a população tem isto como uma evidência ? isso verificou-se no resultado da eleição de 2001 e nesse estudo de opinião, e o que espero é que se volte a verificar na eleição de 2005. E que isso queira dizer duas coisas: que o que se fez até aqui está bem mas, mais importante, que queremos mais e melhor. A verdade é esta: o concelho de Ílhavo é hoje uma terra com qualidade de vida, com presença e importância regional e nacional, com visibilidade a vários níveis, e isso é também fruto da herança que tivemos, não fomos nós os pais da terra, já tinha muitas coisas muito positivas. Mas de facto o trabalho da Câmara nestes sete anos e meio fez a diferença.

Este será o seu último mandato na Câmara de Ílhavo?
Parto para esta eleição de forma tranquila, determinada e sem preconceitos ? sou a favor da limitação a três mandatos e se a lei não mos limitar, gostaria de ser eu próprio a limitá-los. Esta é a minha declaração de princípios. Na política como na vida, não gosto de fundamentalismos e não vou dizer «juro e jurarei que este é o meu último mandato»; não faço isso. Mas a minha declaração de princípio é clara e gostava de a materializar, mas pode haver circunstâncias políticas que o não permitam.

Um dos projectos emblemáticos da Câmara é a construção da marina da Barra. Qual é actualmente o ponto da situação?
Continuarei a ser reservado na gestão dessa matéria, mas continuarei a ser claro a dizer que o concelho tem três investimentos de grande importância e relevância turística, não só para si próprio mas para a região e o país: a marina da barra, o aldeamento da Quinta da Boavista com campo de golfe e a qualificação turística com unidade hoteleira da Vista Alegre. São os nossos três grandes investimentos, privados e que no seu conjunto andam em cima dos 400 milhões de euros, criadores de empregos e geradores de riqueza, e nós vamos continuar a lutar por eles. Portugal tem verdadeiramente de apostar no turismo, naquilo que é o valor e a diferença da sua cultura e da sua natureza. Se não conseguirmos materializar projectos como a marina da Barra, não vamos nunca ser um país em condições. É preciso que o eterno discurso dos políticos portugueses passe à prática e se materialize em várias marinas da Barra pelo país, em vários projectos de relevante interesse, porque o turismo é um sector chave para o desenvolvimento económico do país ? se não fizemos isto, não é o concelho de Ílhavo que está em causa; o concelho de Ílhavo não começa com a marina da Barra nem acaba se não tiver a marina da Barra, mas é o país, que passará ao lado de mais uma aposta fundamental para o seu desenvolvimento económico.
Temos outro problema no país, que é a excessiva rotatividade de governantes ? nos últimos três anos e três meses, estamos a conhecer o nosso quarto Governo e o nosso sétimo ministro da área do Ambiente e obviamente por mais extraordinária que esta gente fosse toda, não é possível fazer nada em lado nenhum com semelhante rotação de responsáveis. Com o actual Governo, já estão as audiências todas pedidas para conversar sobre o seguimento do projecto da marina, mas ainda não tive nenhuma.

Mas pode confirmar que o plano de pormenor está em fase de licenciamento?
Temos um plano de pormenor em fase de licenciamento; teve uma primeira versão que é pública e conhecida e que está a receber os devidos ajustamentos para poder vir a ser um plano de pormenor fechado, que a Câmara venha a aprovar, que venha a ser sujeito a inquérito público e a subsequente ratificação pelo Governo. Haverá depois os estudos de impacto ambiental dos projectos de execução.

Não recebeu portanto nenhum sinal do Governo PS sobre que destino reserva à marina?
Não. Estão pedidas audiências, nomeadamente ao ministro do Ambiente, não só por causa da marina mas por causa de várias coisas, como a gestão da ria de Aveiro. A partir de agora é que vou começar a cobrar ao Governo as audiências, porque entendo que qualquer governante tem direito a ter três meses para assentar, perceber o seu trabalho, definir a sua política, criar a sua equipa de colaboradores para começar a receber pessoas.

Um projecto que tarda em avançar é a ligação ferroviária ao porto. Quando começam as obras?
Ainda recentemente tive reunião com a Administração do Porto de Aveiro e o que temos é a clareza da decisão da Refer, da Administração do Porto de Aveiro e do Governo de fazer a ligação ferroviária o mais rapidamente possível, e o mais rapidamente possível é terminar os estudos que estão em curso, nomeadamente de ajustamentos finais ao projecto e estudo de impacto ambiental, para que durante o segundo semestre de 2005 ? e vimos documentos escritos ? o concurso público seja aberto, de forma a que a obra possa avançar durante 2006 e venha a receber fundos comunitários do quadro 2007/2013. Isto é fundamental para todos nós e é óbvio que o porto de Aveiro sem a ligação à Linha do Norte é um porto sem viabilidade, sem possibilidade de existir, sem sustentabilidade financeira.

Quer Ribau Esteves quer Alberto Souto, presidente da Câmara de Aveiro, falam na necessidade de uma maior cooperação entre as duas autarquias, mas na prática isso não parece acontecer. O que pode mudar na relação entre os dois municípios no próximo mandato?
Os dois próximos presidentes das câmaras de Ílhavo e Aveiro decidirão, e espero que decidam bem e depressa logo no início do mandato. O presidente da Câmara de Ílhavo não tem vontades sobre quem vai ser o próximo presidente da Câmara de Aveiro e espero que o contrário também aconteça, por respeitabilidade institucional. É importante que os dois presidentes de câmara, no início do mandato, estabeleçam acordos e os cumpram. Mas é fundamental que utilizemos os fóruns de interacção onde formalmente as câmaras trabalham em equipa, e estamos a falar da Associação de Municípios da Ria ou da Grande Área Metropolitana de Aveiro. Portanto, para sermos consequentes quando falamos de cooperação é preciso ir às reuniões.

Essa é uma crítica a Alberto Souto?
A Junta Metropolitana de Aveiro já reuniu cinco ou seis vezes e o presidente da Câmara de Aveiro é o único que não foi a reunião nenhuma. Assim não é possível fazer trabalho de equipa. É muito importante que possamos melhorar a nossa «performance», espero que tenhamos capacidade para que as coisas comecem bem no início do próximo mandato. Se for eu próprio e o doutor Alberto Souto ? se nos mantivermos os dois ? temos condição para o fazer. A importância daquilo que temos para fazer em conjunto e a intimidade da relação entre a população dos dois concelhos chegavam para determinar que essa relação tem que ser mais geradora do que tem sido.

Que projectos em concreto poderão beneficiar de uma maior cooperação entre as autarquias de Aveiro e Ílhavo?
Há várias áreas ao nível das acessibilidades, da produção cultural, da dinamização e promoção turística, da construção e gestão de alguns equipamentos na área desportiva, a própria gestão da nossa relação com a Universidade de Aveiro... São áreas em que a cooperação já tem existido mas que se deve aprofundar.
(aos dias 21 de Junho de 2005)

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João Oliveira

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