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segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Entrevista de Alberto Souto no Público

Aveiro encerrou o ciclo das grandes construções
O socialista Alberto Souto promete dar prioridade à cultura e à educação se vier a ser reeleito como presidente da Câmara de Aveiro. E embora defenda o agrupamento de municípios para a prossecução de objectivos comuns, considera que a Grande Área Metropolitana de Aveiro "é um nado-morto". Por Rui Baptista
Numa sala despida da sua sede de campanha, virada para a principal artéria da cidade, Alberto Souto reclama obra feita. "Fiz muito com pouco dinheiro", responde aos que o acusam de falta de rigor financeiro. O autarca, que se diz determinado a "pôr a ciência na rua", põe a tónica na redução do passivo da autarquia e considera justas as taxas máximas aplicadas pelo município.

PÚBLICO - O seu programa de acção para os próximos quatro anos está, na opinião de um dos seus colaboradores mais próximos, cheio de "obras imateriais". Ou seja: pouco cimento, pouco investimento. Porquê?

ALBERTO SOUTO - Aveiro encerrou o ciclo das grandes construções e do betão. Temos saneamento básico que praticamente cobre toda a população, um sistema viário num estado muito razoável e os grandes equipamentos foram também construídos. Neste mandato temos que apostar na construção do novo parque escolar, as escolas do século XXI. E faltam-nos algumas vias estruturantes, como seja a ligação Aveiro-Águeda e a duplicação do acesso sul à auto-estrada. A proporção entre grandes obras e a aposta em projectos "imateriais" vai inverter-se. Estamos a entrar numa fase em que vale a pena apostar na qualificação das pessoas.

Há uma nova filosofia na sua gestão autárquica?

Há uma adaptação das nossas perspectivas aos novos tempos. Não há dúvida que Aveiro é um cluster de novas tecnologias e dispõe de uma singularidade ambiental que deve ser valorizada em termos turísticos e outros.

A aposta é na qualidade de vida, como disse na apresentação do seu programa eleitoral?

Sim, acentuando uma tendência que vem de trás. Estamos em condições de passar para o patamar superior, sobretudo na cultura e na educação. As comunidades constroem-se com a satisfação das necessidades mais elementares, mas também com a satisfação das necessidades mais espirituais, mais imateriais. E nós estamos numa fase em que me parece importante elevarmos as nossas necessidades em termos culturais.

Mas faz sentido gastar dinheiro com uma estátua holográfica nas Pontes, como defende a sua candidatura, quando as pessoas do bairro degradado da ilha do Canastro continuam a viver em condições indignas, por exemplo?

É evidente que a ilha do Canastro já devia ter sido suprimida e é absolutamente prioritária. Mas nós temos um conjunto de necessidades intelectuais que não desaparecem pelo facto de haver alguma miséria ainda. E na ilha não há bem miséria, há mais degradação. Nós temos capacidade para resolver as duas coisas ao mesmo tempo. Por exemplo, na requalificação do espaço público, em vez de estarmos a recuperar o repuxo e a estátua da personalidade da terra, preferimos apostar num programa de decoração e estatuária associadas à ciência e à investigação, que ponha a ciência na rua. Vamos ter um conjunto de ícones, de experiência da ciência aplicada a intervir na cidade, e a fazer desses ícones uma marca distintiva da cidade.

É função da autarquia financiar a ligação dos cidadãos à Internet, ou oferecer computadores aos professores, como promete a sua candidatura?

Em Aveiro temos que ter a ambição de que nenhum estudante, de qualquer nível de ensino, pode ficar privado de um instrumento hoje em dia fundamental, que é ter um computador em casa e ter acesso à Internet. Não sei se é caro, sei que tem um custo, mas o custo de não os ter é muito maior e paga-se muito mais caro depois. Investir na educação, de forma a facultar, de forma generalizada, o acesso a esses meios das novas tecnologias parece-nos um excelente investimento.

O seu projecto de fazer da ria de Aveiro património mundial tem viabilidade?

Vamos ver o caderno de encargos da UNESCO, mas penso que passa pela despoluição total da ria.

Mas fez a promessa antes de conhecer o caderno de encargos?

Fiz. Estas coisas têm encargos diferentes, até porque estamos a falar de património natural. Vai ser exigido um conjunto de parâmetros para que essa classificação possa ser obtida. Mas, sobretudo, esse é um objectivo mobilizador que pode congregar os esforços de todas as entidades que interferem na ria, como câmaras municipais, administração do Porto de Aveiro, Ministério da Agricultura e Pescas, Capitania do Porto de Aveiro, empresários, etc. O que interessa é que este legado natural possa ser preservado e protegido. Isto é um teste também à nossa capacidade de construirmos algo em conjunto e esta é a altura de passarmos da retórica aos actos e acreditarmos que a cooperação intermunicípios pode dar frutos concretos. Em Aveiro tem dado frutos nos sistemas intermunicipais, como a Simria ou Associação de Municípios do Carvoeiro.

É nesse contexto que surge o desafio que lançou ao presidente da Câmara de Ílhavo, para que os dois municípios preparem em conjunto os próximos orçamentos e planos de actividades?

Essa proposta não é apenas uma picardia de campanha. Eu acredito que era um exemplo que dávamos ao país, estaríamos a ser inovadores em termos cívicos. Dada a contiguidade dos territórios e a total confluência da vida das pessoas de Ílhavo e Aveiro, era urgente que pudéssemos preparar os documentos de forma concertada, numa perspectiva de optimização dos recursos escassos, até para não estarmos a repetir investimentos ou equipamentos que podem existir num município ou no outro.

Está a defender um agrupamento de municípios semelhante ao que foi defendido pelo anterior Governo?

Eu sou favorável aos agrupamentos de municípios. O quadro jurídico que estava estabelecido era um de grande fragilidade, porque criaram-se expectativas, mas ficou tudo dependente da vontade política do Governo em transferir meios e competências. O engenheiro Ribau Esteves tem-me criticado por eu faltar às reuniões da área metropolitana, mas neste momento a área metropolitana é um nado-morto. O engenheiro Ribau está a presidir a um cadáver adiado que não tem perspectivas de ressuscitar.

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  2. Excelente.
    Souto 20- élio 0.

    A propósito: onde está o Élio? Alguém o tem visto por aí? Alguém lhe ouviu alguma ideia? Alguém o viu em algum acto público, em sinal de respeito pelo povo e pelos outros autarcas?
    Ter-se-á eclipsado?

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  3. E como Alberto Souto pagará as dívidas da câmara? As taxas e liceças vão ser aumentadas, pois...
    E as promessas não cumpridas? Ainda podemos confiar nestas? Votei ASouto 2 vezes, mas desta vou votar Élio Maia.

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  4. Grande entrevista. Vou votar Souto. O tipo é bom , fez muita obra e não faz demagogia. Onde está o Élio ?? Nem sequer apresenta programa ?? EStamos todos curiosos sobre a forma como diz que vai pagar as dívidas...Mas se nem as de S. Bernardo pagou...Ou será que baixando as míseras taxas vai ter mais dinheiro ? BAh Ainda não passou do grau zero da demagogia...Souto 9, Élio 1

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  5. JMO: Não falta uma parte da entrevista?

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  6. Não sei. Eu vejo o Publico Online e na edição de ontem tinha esta entrevista online. Na de hoje, tinha dois textos distintos, que eu coloquei colados.

    Se falta, só posso esperar que o candidato a ponha online ou que o Rui Baptista a disponibilize.

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